domingo, abril 16, 2006

Às voltas no Ribatejo...

No dia 14/04/06, sexta-feira, fomos pescar, visto ser dia santo e tradição de muitos portugueses...

Mas para mim e para o meu colega de trabalho, a pesca foi posta de parte... logo que cheguei ao lago, deparei-me com a enorme quantidade de girinos de anuro; apesar de não termos tirado nenhuma foto, suspeitamos ser um Sapo-de unha-negra (Pelobates cultripes)...
Eram aos milhares!!! Pensamos que alguma poluição possa ter eliminado os predadores habituais destes animais, visto que no ano anterior, o mesmo lago estava "minado" de lagostins-do-Louisiana e de percas-sol (espécies introduzidas)... Daí a enorme proliferação desta espécie de anuros. Deduzimos também que seja esta espécie de sapo, visto o solo circundante ser bastante seco e arenoso, propício à existência deste raramente observado anfíbio; alguns girinos tinham um tamanho considerável, o que evidencia mais ainda a hipótese de ser este animal...

Com uma observação mais pormenorizada da margem do lago, verifiquei a existência de uma quantidade razoável de larvas do maior caudado da Europa, a Salamandra-dos-Poços (Pleurodeles waltl):


Já nos anos anteriores tinhamos comprovado a existência de adultos deste animal...

Um pouco mais tarde fui fazer um reconhecimento de campo... procurar por baixo de pedras, troncos, tocas, margens do lago, etc... E finalmente encontrei, por baixo de um pequeno tronco à beira de água, uma cobra-de-pernas-tridáctila (Chalcides striatus), que na realidade, não é uma cobra, apesar de serpentear para se mover, mas sim um lagarto com patas, pequenas patas quase sem funcionalidade alguma:


É um animal extremamente dócil, nem me tentou morder, apenas fugir... Não é um animal venenoso, alimenta-se de insectos e é benéfico para o ecossistema, como aliás , todos os outros animais da fauna nacional; nenhum é desprezível. É um animal que pode atingir, extraordinariamente, os 43 cm, embora o aspecto esguio o faça parecer menor. Este tinha por volta de 2o cm.

Mais umas centenas de metros à frente do sítio onde tinha encontrado a cobra-de-pernas, para surpresa minha, debaixo de uma placa com cerca de 1x2 metros de largura de espuma para construção de casas, encontro, simultâneamente, ao levantar essa placa, um rato-do-campo, uma cobra-de-água-viperina (Natrix maura) recém nascida e mais uma cobra-de-pernas, para além de algumas carochas de um tamanho anormalmente grande... Excepto estas últimas, todos os otros animais fugiram para o espaço circundante... e lá fui eu atrás deles.

Era visível a existência de um ninho destes micro-mamíferos debaixo dessa placa, deve haver aí nessa zona uma pequena comunidade desta espécie, que se pensa estar em declínio a nível nacional. É um animal castanho-claro, olhos algo maiores do que os de um rato normal... Para rato até tinha um aspecto bastante agradável... mas deixei-o ir, porque não tinha a máquina fotográfica ao meu alcance, excusava de fazer o bicho perder tempo comigo.

Depois, lá encontrei a pequena Natrix, a fazer a mimetização de uma víbora... Sinceramente, a princípio deixei-me iludir, mas logo vi que não era uma...

Da cobra-de-pernas apenas sei que era um pouco maior, não cheguei nem a procurá-la... Afinal, tinha visto a primeira cobra do dia!! Aqui estão algumas fotos dela...




A principío a cobrinha estava muito calma, mas com o passar das fotografias começou a tentar atacar a máquina fotográfica e inclusivamente os meus dedos, mas como possuía uma boca demasiado pequena para os meus dedos, não me chegou a conseguir morder.

É uma espécie não venenosa, apesar da ignorância das pessoas insistir que sim, que são animais prejudiciais. Mesmo as cobras venenosas raramente mordem. São animais tímidos e preferem 99,9% das vezes fugir do que atacar.

Alguns dos hábitos desta espécie estão descritos num anterior post.

À tarde, logo a seguir ao almoço, fomos eu, o meu primo e o meu irmão dar uma volta à margem oposta do lago.. Ainda eram algumas centenas de metros. O meu primo trouxe a máquina, o que permitiu que as fotos fossem tiradas no momento.

Pelo caminho o meu irmão encontrou o que menos esperávamos! Um louva-a-deus de uma espécie desconhecida... Como veio cá parar a Portugal? Desconhecemos...


Quando chegámos ao lado oposto da margem, demos com um sítio alagado, tipo pântano, e aí encontrámos mais um exemplar, adulto, de cobra-de-água. Não tardámos em tirar-lhe fotos. Era muito dócil mesmo, deixou se pegar com facilidade. Apenas sibilou um pouco. Haveria de ter, em comprimento, cerca de 75 cm, e estava bastante pesada e robusta, o que é lógico, com tanta abundância de girinos...


Foi o último animal do dia... Não foi nada mau, para um primeiro documentário fotográfico...

Ainda pudemos observar outros tipos de animais durante o dia... De realçar as Rãs-verdes (Rana perezi) e uma garça real, para além de muitas lagartixas e de todo o tipo de insecto, mas tudo bastante comum...

Acaba aqui o documentário, esperamos que tenham gostado!